Sobre estar em um relacionamento sério com a minha pizza.

Queria estar em Napoli. Engordar muitos quilos como fez Liz Guilbert, encher a boca para pronunciar "attraversiamo" e saber que ali é o lugar perfeito para se falar em italiano, porque, lá estaria a Itália em toda sua magnitude esperando ansiosa minha presença. A enorme bota que calça perfeitamente o pé direito em que dou os primeiros passos na vida. A massa corpulenta, fresca, com molho de tomate sem conservantes. O prazer priori e satisfação posteriori em não depositar naquela pizza nada além da saciedade que ela proporcionará. Depois de muitos Davids e primeiros matrimônios que seguem em doloridos divórcios, você só quer chegar em casa, abrir o vinho e pedir aquela comida para um só. Você não quer dividir, você não quer se desmembrar. 
Chega o momento em que você é a melhor companhia de si mesmo e querer sair das fronteiras de onde se viveu nunca pareceu tão certo, tão verdadeiro, a ponto de demonstrar ser a forma mais coerente de se encontrar todos os dias quando passar por aquele ponto turístico que só se vê nos sites e fotos de viagens em que você visita há anos e anos a fio. 
A falta de ar é essa, como a que acabei de proporcionar a você que leu esse último parágrafo. É sufocante, mas é como aquele grito de um som só em que você expressa tudo o que quer, corrido, mas coerentemente. 
Todas as vezes em que sobe a necessidade de ir ao banheiro, ajoelhar e pedir desculpas por não ter falado com Deus por muito tempo e implorar veementemente para que ele me diga o que fazer, eu pulo direto para a Índia. A vantagem de ter lido o manual é saber que há solução no fim e que você não precisa passar por todo aquele processo novamente. 
Então você não chora, não mergulha em Davids, não volta pra cama e comunica que não quer mais estar casada. Você simplesmente faz a mala, compra os bilhetes (pois só assim você tem a chance de ganhar na loteria, já dizia o conto popular italiano) e vai embora.  
Em viagens longas você fecha os olhos e aguarda. Enquanto dorme faz sete regressões, todas essas mostrando e delimitando cada aspecto de sua vida, Quando acordar e tiver chego em seu destino você estará zerado. 
Você está se propondo a ser a mais nova esponja humana naquela terra em que seus pés tocam (pela primeira, segunda ou enésima vez). 
E isso fica ainda melhor quando se está só. Quando não há pessoa familiar próximo a você.
Quando a vida diz "se vira" e te empurra na multidão de rostos e corpos totalmente novos. 
E não importa o quanto o dia esteja chuvoso ou quente, que a mala tenha ou não extraviado e você não tenha nada mais nada menos que uma muda de roupas, uma escova de dente e sabonetes; tudo vai estar belo. Tudo vai cheirar a novo, como quando recebemos a mobília de nossa primeira casa. 
E se mesmo assim a Itália cumprir seu papel mais rápido do que se espera, lembre-se que você sempre pode ir a Índia ou aBali. 
Pois, entre o que nos sustenta o corpo e a alma há a o que nos sustenta em espírito, e nada é mais gratificante do que o prazer de edificá-lo. Seja com um mantra, com um amor ou com um prato de espaguete.

Sobre a pizza,
Pepperoni. Mussarela. 
Sobre o vinho.
Tinto e suave.
Sobre a companhia:
A minha. 

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