Fala pra ele

Ela parou por um momento e observou tudo o que acontecia. O vento frio, o céu cinza em um dia colorido. Ela tremeu por dentro. Há poucos dias atrás ela selou compromisso sério e fiel a pizza de pepperoni, ao dicionário de italiano, a praticar esportes mesmo nos dias frios. Mas ela lá estava. Próximo daquele rapaz que acarinhava os cabelos, os braços. "Eu não tenho um barco, disse a Árvore" e era assim que ela se sentia em relação a ele. Por que eu? O que eu, pra você, tenho a oferecer? 
E olhando pra ele, ela percebeu que havia quietude no coração. Estranhou a parada dos maquinários constantes que a faziam pensar em inúmeras coisas, ficou por momentos olhando para o nada; achando que algo estava errado. O que era toda aquela calmaria estrangeira? Se perguntou.
Só a companhia já fazia bem. Quando houve beijo, houve também o leve balançar das folhas, aumentando em intensidade e frio, fazendo-os ficar mais juntos, mais próximos. Foi bonito. Tudo aquilo. 
Ao ir embora deixou transparecer uma euforia rasa, um sorriso de canto de boca que a condenava. Os traumas apareciam vez ou outra, tentando abafar o acontecido. Ela já não se importava. 
Nos dias que se sucederam foram belezas. Belezas das mais diversas. Expostas em abraços, beijos envergonhados, conversas bobas e risonhas. A camomila que ele transmitia, fazia os fios escuros de tristeza mudarem em tons solares de iluminação. Era outono com gosto de verão. A cada dia um pouco mais aquecida, e as reclamações logo cessaram. As dores logo passaram. 
A diferença dos anos a principio a assustou. Achou errado, o que estava fazendo? Atrasando a juventude de alguém. Que direito tem disso? Vai embora não embola a vida do menino! Mas ela sentou consigo mesma e olhando profundamente nos olhos do seu reflexo perguntou: "Você gosta de ser infeliz não é mesmo?". O reflexo em expressão reflexiva, refletiu. A si mesmo e o mundo. "Acho que sim.". E se envergonhou por isso. Acha que não tinha direito nenhum de ser feliz. Pois, quando a alegria se apresentava, ela corria. 
Corria como todos os dias. Mas não dessa vez. 
Ela havia pego o trem errado. Passou dias perdida sem aparo, Mas como Cícero havia falado: "Na estação do acaso, eu encontrei o meu bem." E nisso ela havia concordado. Há males que vem para o bem e se no fim todo bem era como ele, poderiam haver outros males, porque dele ela gostaria de ter mais pouquinho e espichar sua presença mais um cadinho na vida daquele rapaz não lhe parecia nenhum perigo. 
Nesses dias acordava com vontade de falar pra ele. Falar o quão bonito estava ele enfeitando todos os dias do cotidiano além do domingo. Que nos abraços ela encontrou um abrigo, um carinho, um esconderijo. 
Dos males lá de fora. Dos não amores, das dores. E lá dentro espetou uma mísera casinha, com uma cama pequenina, onde pudesse descansar. 
Talvez ele não soubesse que em tão poucos dias havia se tornado um pequeno mundo avulso de tudo para ela. Talvez ele não soubesse que estava fazendo bem. E que todas as vezes que ela sentiu medo, ela encontrou conforto no olhar doce do outro e quis continuar. 
Talvez dure o que há de durar e que dure mais do que se espera.
Pois ela quer praia, quer parque, quer sair pra passear. 
Na companhia de um bem querer, andorinha, levando a voar. 
Ela quer falar outras coisas. Umas ao pé do ouvido, outras com um sorriso.
Agradecer devagarinho. 
Obrigada menino, por ser quem é.

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