Na nossa casa, uma morada e na morada h(á) vida.

As janelas de madeira que escolhemos cuidadosamente (mais eu do que você) pra compor a lateral esquerda do nosso quarto anunciavam mais um dia, com filetes dourados de um sol, que mesmo cedo, já se mostrava quente.
Você sempre com o mesmo costume. Papéis espalhados pela escrivaninha do escritório, porque você trabalhou muito a noite já que "na madrugada eu funciono melhor". Digo isso imaginando claramente sua voz falando pra mim. Você vai dormir até umas 10:30. Sorte a sua ter conseguido um trabalho tão bacana e que acompanhasse seu ritmo de contra-turno. Eu, matutina, já estou de pé, na cozinha. 
Comecei a preparar meu café, computador na mesa, checando os e-mails. Pareceria mentira dizer isso aqui, que eu talvez quisesse "americanizar" um pouco a nossa vida. Mas, você já sabia (há muito tempo, antes de morarmos juntos), que eu tinha essa coisa meio empresarial no meio do meu café. Parecia que eu era alguém importante, olhando a caixa de entrada à mesa. Era pose. É pose. E eu gostava e gosto de pose. Você sabe.
A nossa casa tem uma parede colorida, com vários quadros de cortiça. Lá guardamos nossas melhores lembranças. Aquelas que fazemos questão de reviver o tempo todo. 
Todos os ingressos de inúmeros shows, pequenos e grandes, que nós comparecemos. Fotos embaçadas e outras muito bem tiradas, nossas e de nossos amigos. Alguns deles engraçadíssimos. Bêbados, sorrindo. E nós mais ainda. Isso aqui é nosso paraíso. É lembrar diariamente o porquê de estarmos juntos, o porquê de nós darmos tão certo. Nós nos amamos, e amamos a vida. E amamos vivê-la, juntos. E ela nos ama de volta. 
Nesse ciclo, as memórias tornam a vida eterna e na próxima, quando por mais uma vez nós venhamos a nos encontrar, ficará ainda mais fácil reconhecer quem eu sou pra você e você pra mim. Nessa vida já foi, está sendo e sempre será. 
Sempre que você acorda e me dá um beijo na testa sem dizer "bom dia", nem nada, sei que tudo está perfeitamente bem. Todo o equilíbrio de nossa casa, filtrada por você, emana. No meu canto meditativo (aquele que as vezes você usa quando sua ansiedade fala alto demais) eu observo você se movimentar. Leve. E toda essa sua cara de mau humor matinal é só carcaça dos muitos textos pra ler e de aulas pra preparar.
Todos os dias, com essa cena, eu te acho o meu herói. 
Meu herói sem camisa, nem capa. Só um short de dormir surrado. Eu sempre reconheço a armadura que tem no teu abraço. 
A gente quase não assiste tv. Ela fica ligada a noite enquanto você trabalha, porque gosta do barulho. Você sempre acha que alguma coisa interessante pode passar. Você é muito curioso. Gosto disso. Todos esses anos e ainda me surpreendo com sua capacidade de encontrar coisas "inecontráveis". 
Ainda tenho você, em mim, um herói. 
Nosso lar é pequeno. A gente escolheu coisas aqui e acolá e fez da nossa casa uma morada. 
Aquela que a gente usufrui quando seu café fica pronto (você ama café. e açaí. e claro, você sabe dessas coisas), perto da bancada, vinil tocando e a gente já sem falar mais nada. Já rimos, conversamos e agora só contemplamos. A vida que criamos, quem somos. Nós nos amamos. 
Na nossa casa, uma morada, e na morada h(á) vida. Meu amor, minha minha alegria. 

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