O tamanho do teu mar e meu desaguar.

Éramos nós em uma praia, com a brisa leve que soprava  e nossos olhares se entrelaçando como uma onda e outra que quebrava próximo aos nossos pés.
Já havíamos percorrido as ruas e vielas mais bonitas da cidade. Outras não tão belas mas, toda aquela presença, aquele senso de companhia querida, compensava. Estávamos a nos contemplar, a dar sorrisos de canto de boca, gargalhadas quentes e aqueles muitos minutos juntos se transformavam em estrofes longas de poesia que repousavam nas mãos, agora aninhadas, e dançavam pelos calafrios e suspiros sentidos.
Ele ria da cara que eu fazia para o mar, perguntava se queria que me abraçasse pra tentar fazer com que aquele receio passasse, e eu ainda com o olhar perdido dizia que sim, só pra tê-lo ainda mais próximo.
Ele chegou, passou a mão pelos fios de cabelo embaraçados pelo vento. recitou um verso dele, daqueles que só a inspiração mais bonita o faz criar, e eu o olhei como se pedisse pra ficar, o tempo que quisesse, o quanto pudesse, que não fosse.
Então novamente ríamos juntos, como que do nada realizássemos o quão bonito era tudo aquilo que estava ali disposto. Levantamos e fomos mais próximo da orla, onde a água agitada corria e voltava, brincando com nossos sentidos, naquele sentimento que tudo o que vem vai, mas há o que permanece, como a constante areia molhada daquela faixa de terra quase insular.
Pegava um pouco da água salgada e em mim jogava, depois corria e quando corria atrás, parava, só para me pegar e rodar como uma menina agitada.
Quando o meu pé no chão tocava eu balançava e me questionava se aquilo era maré ou sentimentos que aqui dentro palpitavam e expandiam-se pois, em mim, já não mais cabiam.
E nessa visão tão bela enxergava-se as pessoas e as coisas e as paisagens e, naquele instante, percebi que no meio do sorriso haviam cores mais presentes, mais vibrantes e que antes eram imperceptíveis.
Cheguei próximo e com um beijo senti que podia passar o mínimo do que estava sentindo.
Virei e agora, sozinha, chegando mais perto de toda aquela imensidão pedi licença a Inaê para entrar, cantei um verso sobre sua beleza e agradeci pelas dádivas concedidas tentando enxergar nas ondas o seu olhar.
Mergulhei.
Quando o fiz algo veio ao meu encontro, no meu ouvido foram ditas palavras preocupadas, nos braços a firmeza do receio de que a verdadeira Iara me levasse para seu reinar.
Naquele momento percebi que meu pequeno rio, sentindo dele todo o zelo e carinho, desaguava de bom grado em seu mar.

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