Trago

Trago
Um trago no teu cigarro
Um cheiro nos teus dedos escuros
Um abraço nos teus olhos maculados
Trago
Um beijo nos teus dentes amarelados
Uma toalha para teu corpo suado
Um afago
No teu corpo nu
Trago
Um sortilégio indesejável
Uma dúvida que fez chover no molhado
Um momento desgastado
Um prato de amor
frio e cru
Trago
Ajuda aos necessitados
Que não querem ser ajudados
Teimosos
Se embrenham, se põem tortos
dentro de suas verdades
Trago
Comigo um passado
Doído
Presente e futuro sendo vividos
E eu
como mártir
e martírio
Trago
O sim, o não e a dúvida
Uma alameda obscura
E uma grande vontade
de transpor a sua
tão viva
presença astuta
Trago
Um trago no meu cigarro
mesmo sabendo que não fumo
Que amanhã é sábado
E que mais certo que a morte
é o descontentamento do mundo.

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