Contra-invenção.

Eu sou uma contravenção
Pelo sim e pelo não
Também sou dona de mim
Nas intempéries e jugulares 
eu me mato e me ressuscito aos poucos
Sempre que há necessidade
Eu renovo a vida
e crio a morte
luto um absurdo sem fundo
em um velho tatame
feito com roupas minhas e tuas
por conta de um vasilhame
Não me chame.
Em carreiras falidas
e nos sucessos da vida
é na dor
que o poeta rima
É na necessidade que a rendeira trança
Que a parteira balança
Que nasce vida nova
morre vida adulta
que benzedeira cura
Que viajante no adeus
chora
Ilimitados são nossos recursos
para acharmos que de fato sofremos
Contudo,
se questionarmos nosso choro barato
que se faz dentro de um contexto saudável
alimentado
com teto em cima da moringa
que enchente nenhuma tira
será que somos mesmo
tão desafortunados?
Respira,
teu problema existe, minha filha
não dizemos que não,
mas preste atenção,
sejamos contravenção
ao irmos na contramão
do que de antemão
nos deram para acreditar
é preciso de força para se rebelar
e mais ainda de consciência para saber lutar
quando o vento badalar
o sino no quarto dia
dia de Oyá
centraliza
do centro a periferia
e saiba diferenciar
e questionar
por que na favela a mãe chora,
mas na orla comem caviar?



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